Só por teimosia ou por obtusa distracção é que não
reconhecemos que algo está a mudar e se bem que possamos não perceber os seus contornos, contudo as cifras de que dispomos são em número
suficiente para concluir que é qualquer coisa de global.
O paradigma com que se pensou o desenvolvimento das
sociedades terá, necessariamente, que mudar, sob pena de se produzir um
fenómeno de “regressão civilizacional”, sendo que esta viragem exige destreza,
imaginação e celeridade.
Não basta acrescentarmos a palavra “sustentável” a cada medida
ou a cada protocolo estabelecido internacional ou localmente. Quando há vinte
anos o então chamado “Relatório
Brundtland ” inaugurou o conceito de “desenvolvimento sustentável”, propondo a construção de um “futuro comum”, alertava para a
urgência da redução da pressão sobre os recursos naturais, de modo a não
hipotecar a sustentabilidade das gerações posteriores . Chegados ao séc. XXI,
o resultado da “evolução” revela-se, ao invés, catastrófico.
Como diz Luísa Schmidt,
“Torna-se por demais evidente que já não será possível garantir às gerações,
não só futuras mas também presentes, nem os recursos a que nos habituámos, nem
o modelo de desenvolvimento que dávamos por adquirido.” Esta
“evidência” significa que não conseguiremos tapar, por muito mais tempo, o sol
com a peneira, que os problemas ou as consequências que actualmente se tornam
visíveis começam a reclamar medidas urgente, as quais quanto mais proteladas forem
mais drásticas se tornarão.
O curioso (embora seja uma curiosidade preocupante) é que o
diagnóstico está feito e é do conhecimento público. Mesmo as dúvidas dos mais
cépticos terão ficado dissipadas com o último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), onde pela primeira vez, se
estabelece um nexo causal entre as emissões de gases de efeito de estufa (como
o CO2 e o metano) e a aceleração do aquecimento global, determinando
assim uma interferência antropogénica no clima da Terra.
Por efeito das circunstâncias, o problema energético
coloca-se no centro da actualidade, todavia os problemas não se confinam a esta
questão. Ainda que menos visíveis, outros problemas estão a exercer fortes
pressões sobre o nosso futuro civilizacional: desde a perda de biodiversidade e
a diminuição da água potável a nível global, até à desflorestação e ao
desaparecimento de milhares de hectares de terras aráveis, com consequências imprevisíveis
relativamente à carestia e escassez alimentar, passando pelo recuo dos stocks piscícolas
e o stress de muitas zonas marítimas, tendo como pano de fundo a constante acumulação
de poeiras tóxicas e metais pesados por efeito da poluição industrial, com
consequências imprevisíveis para a saúde pública - de tudo um pouco enfrentamos
neste dealbar de milénio.
Será esta uma mera visão catastrofista? O desejo seria o de
responder que “sim”, que não passam de arautos fundamentalistas. Mas parece
que se trata antes de uma espécie de história de Pedro e o Lobo invertida: aos
avisos sucessivos mostrámos indiferença e quando actuarmos poderá ser demasiado
tarde, como já o está ser para os milhares de “refugiados do clima”.
Ainda que noutro contexto, diz Kenneth Rogoff , no suplemento de economia do jornal Publico, “A economia
global é um comboio em fuga (…) o espectacular e histórico ‘boom’ económico
global dos últimos seis anos está prestes a colidir contra uma parede.”
Isto mostra uma coisa, é que o problema é nosso, ou seja, não
está em causa senão a nossa subsistência, não a subsistência do planeta , e
mesmo a despeito de algumas teorias mais “holistas” (que aqui não cabe reflectir), a Terra passa bem sem o Homem, nós é que não passamos bem sem
ela.
Fontes: Suplemento de economia de o Publico.(18/07/08).
Atlas do Ambiente (Le Monde Diplomatique)
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